Após
as gravações de Wish You Were Here, o
Pink Floyd decidiu comprar o prédio localizado no número 35 da Britannia Row,
em Londres. Trata-se de um antigo salão de igreja com três andares que serviria
de estúdio e depósito para seu arsenal de PAs, sistemas de luz e efeitos de
palco. Pela primeira vez eles teriam toda aquela parafernália de ponta sob um
mesmo teto e a ideia seria alugá-la para outras bandas enquanto não estivessem
na estrada. No intuito de se tornarem os reis do mercado desse tipo de
aluguel, duas empresas foram criadas: a Britannia Row Audio, gerenciada pelo roadies Mick Kluczynski e Robbie
Williams, e a Britannia Row Lighting, comandada por Greame Fleming. Infelizmente,
o tempo mostrou que eram poucos que precisavam daquelas gigantescas torres de
luz e dos mixers quadrifônicos em
seus shows e, anos depois, boa parte dos equipamentos foi passada para frente.
A
nova empreitada serviria de suporte como uma fonte de renda extra, mas
principalmente para que pudessem gastar o tempo que fosse necessário para
gravar os próximos álbuns e economizar com os gastos caríssimos da locação em
estúdios de qualidade. O contrato original com a EMI previa que eles tinham tempo
ilimitado no Abbey Road Studios, mas em contrapartida teriam que abrir mão de
um percentual dos lucros. Com esse acordo expirado após WYWH, a medida mais
sensata parecia apostar nesse novo empreendimento.
O
estúdio de gravação ficava no térreo do prédio, o que demandou uma complexa
instalação de esteiras, guinchos e empilhadeiras para que pudessem transportar
toneladas de equipamentos para o galpão de depósito localizado no segundo piso.
No último andar ficavam o escritório e uma mesa de bilhar, sugerida por Roger
Waters para seu momento de fuga do stress das gravações.
Embora
as empresas de arrendamento não tenham prosperado, o estúdio mostrou-se uma
opção comercialmente viável. Projetado por Jon Corpe, sua estrutura era
composta por um bloco de concreto chamado lignacite (mistura de areia,
serragem e cimento) que acusticamente é menos reflexivo que o tijolo comum e
proporcionava um som um único que seus concorrentes não tinham. Nick Mason
detalha a sua estrutura: “Nossa intenção era construir uma concha aplicando
todos os conhecimentos para garantir que qualquer imperfeição acústica pudesse
ser ajustada com almofadas e materiais maciços. Escavamos o piso de forma a nos
permitir fazer uma estrutura de blocos completos dentro do vigamento existente
na edificação. A estrutura foi descansada em amortecedores isolantes fixados numa laje de concreto. Isso era necessário para prevenir as inevitáveis
notificações vindas dos vizinhos, assim como para bloquear a trepidação causada
pelo caminhões e ônibus que passavam pela estrada North Road que fica próxima
ao local.”. Como sempre, perfeccionistas e inovadores.
Em abril de 1976 começaram a gravar novo material para o disco seguinte em
companhia dos engenheiros Brian Humphries e Nick Griffiths. Naquele momento, já
existiam duas músicas compostas que ficaram de fora do álbum anterior: Raving and Drooling, e You Gotta Be Crazy, que retrabalhadas
transformaram-se em Sheep e Dogs, respectivamente.
Waters
tinha vários cadernos em que anotava letras e ideias que surgiam em sua mente.
Numa daquelas páginas, havia um rascunho para um projeto de filme junto com
vários desenhos de máscaras de animais. O enredo da película tinha como pano de
fundo um mundo distópico em que três subespécies representariam a raça humana:
porcos tiranos, cachorros autocratas e ovelhas submissas, influenciado pelo
livro “A Revolução Dos Bichos” de George Orwell. Embora ainda existissem alguns
buracos no desenvolvimento da trama, essa foi a base que sustentou críticas
ácidas ao sistema, consumismo e opressão num mundo repleto de desigualdades. O baixista, que foi criado por uma mãe ativa
no Labour Party, justifica suas ideias socialistas: “Quando eu era criança,
sempre pensava que ter um monte de dinheiro era errado. Aqueles sentimentos de
culpa nunca foram exorcizados.”.
Imagem da confusão em Notting Hill |
Num
contexto histórico, aquele ano ficou marcado pela violência que assolou o
tradicional carnaval londrino que ocorre em Notting Hill desde 1966, resultando
em cerca de 300 policiais feridos e mais de 60 prisões civis, muitas delas
arbitrárias. O mesmo incidente é relatado na música White Riot do The Clash. Essa confronto serviu de inspiração para Sheep, que trata essencialmente da
desordem social: “É uma música sobre revolução. Era minha ideia sobre o que
ocorreria na Inglaterra e posteriormente aconteceu no tumulto em Brixton e
Toxteth (1981).”, explicou Roger Waters.
Do
outro lado do atlântico, jovens músicos apostavam numa nova fórmula com canções
diretas, engajadas e não precisavam de muito mais que dois minutos e três
acordes para expressarem sua raiva contra o sistema. Logo a imprensa musical
abraçou essa causa e o Punk Rock chegou na Inglaterra com força máxima,
surgindo grupos como The Damned, The Clash e os companheiros de gravadora, Sex
Pistols, representando o oposto das apresentações pomposas e músicas longas dos
“dinossauros” ELP, Yes e, é claro, o Pink Floyd. Em novembro de 1976, os
Pistols lançaram o single Anarchy In The
UK e viraram a cena musical inglesa do avesso. Eles ensaiavam no mesmo
prédio na London’s Denmark Street em que a Hipgosis tinha seu estúdio. Storm
Thorgerson e Aubrey Powell cruzavam direto com aqueles punks imundos nos
corredores do prédio até que, num belo dia, Johnny Rotten apareceu vestindo uma
camiseta do Pink Floyd com um emblemático “Eu odeio” logo acima do nome da
banda. Powell se recorda: “Eu disse, ‘Você está me tirando?’ E ele respondeu:
‘Sim, estou tirando você e toda essa merda que vocês tocam.”. Apesar do incidente, na maior parte do tempo eles eram
educados e gentis.
Em
1992, Waters provocou durante uma entrevista: “Quando aconteceu o punk? Eu nem percebi.”.
Já Gilmour parece menos incomodado com essa história: “Eu acho que Rotten nos
usou como uma espécie de símbolo, porque éramos um alvo com substância. Seria
muito chato ter escrito ‘Eu odeio o Yes’ em sua camiseta.”. Anos mais tarde,
ainda disse à revista NME: “Não acho que nos sentimos alienados pelo punk, apenas
não acreditávamos que era algo relevante. Sempre fico maravilhado
quando escuto músicos ingleses que eram grandes na era punk dizendo que
adoravam tudo o que fazíamos – e isso inclui um membro dos Sex Pistols! Não,
não vou contar quem é.”. Alfinetadas à parte, fato é que as letras de Animals eram tão corrosivas quanto qualquer mensagem punk. Mark Blake, conceituado jornalista e biógrafo da
banda, pontuou felizmente que a mensagem “Estamos todos revoltados” por trás de
Dark Side Of The Moon foi substituída
por “A vida é uma merda” em Animals.
Ocorre
que, naquele momento, o Floyd não era mais quem estava em evidência, como
quando surgiram em Cambridge na metade nos anos 60 e exploraram a psicodelia
musical e visualmente no underground londrino
até se tornarem gigantes milionários e reconhecidos na década
seguinte. Agora era a vez de uma outra geração surgir com uma nova forma de
expressão artística e se deleitar na crista da onda. O próprio Nick Mason produziu o segundo álbum do The
Damned, Music For Pleasure, no
Britannia Row em 1977: “Mas isso apenas porque eles queriam que Syd Barrett o
fizesse. Obviamente, ele não estava disponível e acho que ficaram bem
desapontados de acabarem comigo.”. A única confusão propiciada pelos punks se deu quando um dos membros da
equipe resolveu pichar todas as caras paredes de lignacite. Até mesmo a banda
ficou envergonhada e decidiram limpar meticulosamente todas as manchas.
Internamente,
Animals foi um marco na divisão de
poderes entre os integrantes, o que resultou em brigas insustentáveis e na
consequente separação anos mais tarde. Richard Wright, talvez o mais
prejudicado quando passou a integrar a banda como músico contratado tempos
depois, comentou sobre essa época: “Foi o período em que Roger realmente
começou a acreditar que era o único capaz de compor na banda. Tive uma culpa
parcial nessa situação porque não tinha muito o que acrescentar. Gilmour, que
poderia oferecer muito mais, somente ajudou em algumas músicas ali.”. Na
verdade, Gilmour apenas dividiu os vocais e compôs Dogs em parceria. Defendendo-se, Waters justifica sua prepotência:
“Não existia espaço para que outra pessoa escrevesse. Se eu encontrasse uma
sequência de acordes, certamente a usaria. Também não havia motivo para que
Gilmour, Wright ou Mason tentassem escrever algumas letras, já que elas nunca
seriam tão boas quanto as minhas.”.
Snowy White |
Waters
havia se separado há pouco tempo de sua mulher e escreveu na última hora Pigs On The Wing, uma canção de amor que
serviria para aliviar a tensão do disco em homenagem à sua nova namorada, Carolyne
Christie. “A primeira parte indaga ‘Onde eu estaria sem você’. A segunda diz:
’Diante de toda essa merda, sei que você está ao meu lado e isso torna tudo
possível’”, explica o músico. Originalmente, a faixa continha um solo de
Snowy White, músico contratado para servir como guitarrista e baixista de apoio
para os shows, mas foi descartado quando dividiram a música em duas partes,
abrindo e fechando o disco: “Achei que era necessário, caso contrário o álbum seria apenas um grito de raiva.”, explicou o baixista. Dividindo a faixa,
os royalties que Roger receberia como compositor aumentariam,
fato que acarretou muitas desavenças entre os músicos.
Responsáveis
pelas capas desde 1968, a união entre o Pink Floyd e a Hipgnosis rendeu mais
uma imagem icônica e memorável para a arte de Animals, quase tão famosa quanto o enigmático prisma de Dark Side. Num primeiro momento, Storm
Thorgerson sugeriu duas ideias, ambas rejeitadas pela banda: uma criança
segurando um ursinho de pelúcia espiando seus pais fazendo sexo e a imagem de
patos presos por um prego na parede de uma sala de estar. Porém, Roger Waters
sabia que poderia fazer melhor e concebeu a ideia do porco inflável sobrevoando
as torres da Battersea Power Station que todos conhecemos: “Eu gostava do
simbolismo bruto... via as quatro torres fálicas e o porco como um símbolo de
esperança.”. A Usina de Força Battersea retrata um cartão postal impactante na
paisagem londrina. Localizada nas margens do rio Tâmisa, foi projetada por Sir
Giles Gilbert Scott (o mesmo da famosa cabine telefônica), teve a primeira
parte finalizada em 1933 e consistia na união de duas usinas de forças. A segunda
delas foi completada somente em 1953 e deu vida às quatro imponentes chaminés.
Waters passava de carro em frente à usina praticamente todos os dias no seu
trajeto para o estúdio, o que o inspirou para que surgisse com a ideia da capa.
Um
porco inflável de nove metros de cumprimento preenchido com gás hélio, apelidado
de Algie, foi encomendado pela empresa alemã Ballon Fabrik, a mesma responsável
pela construção dos primeiros Zeppelins. Por segurança, contrataram um atirador
para que acertasse o porco caso ele se soltasse das amarras em que foi preso. A
primeira sessão de fotos foi marcada para 2 de dezembro, mas as condições
climáticas não ajudaram. No dia
seguinte, embora o tempo estivesse melhor, o atirador não chegou no momento em
que os trabalhos foram iniciados e, por conta de uma forte rajada de vento,
Algie se soltou das amarras de aço e foi dar um passeio pelo céu de Londres.
Aubrey Powell, sócio da Hipgnosis e um
dos responsáveis pelas fotografias, relembrou a confusão: “O Controle de Tráfego
Aéreo começou a reportar o porco voador.”. Somente às 10 da noite ele foi
encontrado numa fazenda em Kent. “O fazendeiro ficou furioso porque parece que
o suíno gigante assustou todas as suas vacas.”. No terceiro dia tudo ocorreu bem, mas as fotos
não agradaram quando foram reveladas. A sorte foi que Howard Bartrop, um dos
fotógrafos, ainda no primeiro dia olhou para as nuvens quando estava quase
voltando para casa e resolveu tirar um último retrato: “O Sol estava saindo das
nuvens mais baixas. Eu voltei e ajustei a câmera para a última fotografia com o
Sol no horizonte.”. Esse último registro de Bartrop foi utilizado na colagem
com o porco sobrevoando Battersea que está estampada na capa. “Se tivéssemos
feito isso logo no começo, teríamos economizado milhares de libras”, admite
Powell.
Algie na mira do atirador |
O
álbum teria sua estreia nas rádios durante o programa de Nicky Horne chamado Your Mother Wouldn’t Like It, que era concorrente direto do famoso John Peel
da BBC. A ideia era apresentar um especial chamado The
Pink Floyd Story contendo entrevistas feitas pelo próprio Horne que seria
divido em diversas partes culminando na exclusiva première. Em 19 de janeiro de 1977, a EMI agendou uma audição para
a imprensa na Battersea Power Station em que eram proibidas anotações dos
jornalistas durante as músicas. Depois de seis semanas anunciando Animals com exclusividade, Horne estava
ouvindo o programa de John Peel e não acreditou quando ouviu o lado A do disco
sendo tocado na íntegra justamente um dia antes da sua programação. “Eu tinha
feito um grande anuncio sobre a estreia no meu programa e na noite anterior não
acreditei quando ouvi o John Peel tocando o primeiro lado do disco.”, relembra
Horne. “E teve uma punhalada pelas costas: eu acho que Gilmour deu uma cópia a
ele.”.
O
lançamento ocorreu em 23 de janeiro, chegando ao número dois no Reino Unino e
ao terceiro posto na América. “Eu não esperava que vendesse tanto quando WYWH.
Não tinham muitas partes doces e cantáveis ali.”, recorda Gilmour. De fato, à
exceção de Pigs On The Wing, esse era
de longe o disco mais direto e cru registrado até então e, definitivamente, não
foi feito pensando no topo das paradas de sucesso.
O
show da turnê era um espetáculo à altura do que eles já tinham feito. Percebendo o
espaço de palco necessário, o número de torres de luz, PA’s, pirotecnia e a quantidade absurda de energia que seria
consumida para que tudo isso funcionasse, perceberam que as casas convencionais
não suportariam tamanha demanda, sendo as arenas e estádios as únicas
alternativas plausíveis. Dentre as atrações, figuravam um porco inflável que
flutuava por cima da plateia até sumir atrás do palco e reaparecer mais tarde
numa versão mais barata que desaparecia em chamas; fogos de artifício que
quando explodiam lançavam paraquedas em forma de ovelhas; a imagem de uma
família inflável composta por um homem de negócios, sua mulher e crianças surgindo em Dogs (nos EUA, os adereços
também incluíam um carro, uma geladeira e uma televisão), além de várias
animações de Gerald Scarfe, que foram aprimoradas. Numa nova atribuição, Nick
Mason ficava incumbido de sintonizar ondas sonoras num rádio transistor no
início de Wish You Were Here.
O
espetáculo era divido em duas partes: a primeira contendo Animals rearranjado para que abrissem com Sheep, e a segunda tocando WYWH na íntegra, além de um bis com Money ou Us And Them. No papel tudo parecia maravilhoso, mas no decorrer da
turnê foram revelados diversos problemas que afetavam a qualidade das
apresentações. Acontece que diante de tanto efeitos de palco, o grupo deveria
estar perfeitamente sincronizado com a equipe, o que não era sempre que ocorria.
Para diminuir a incidência de erros, Waters passou a utilizar fones de ouvido
que, se por um lado o ajudavam na parte musical, por outro representavam uma
distancia da plateia cada vez maior. Concentrados e nervosos para não errar,
todos tocavam de cabeça baixa, sem olhar para frente ou para os lados, o que
começou a irritar o público, culminando numa carta de um fã ofendido num dos
shows em Wembley publicada na Melody
Maker, relatando ter visto Gilmour bocejar durante o show. A previsão de
Richard Wright sobre se tornarem escravos de seu próprio equipamento parecia
ter se concretizado.
Roger Waters usando fones de ouvido |
Os
shows a céu aberto traziam outras dificuldades. Tocando diante de um público de
mais de 80 mil pessoas, o Floyd se deparava diante de fãs bêbados e drogados
que não se concentravam na atmosfera e sutiliza musical que expunham, pouco se
importando com o que estavam tocando. Gilmour relata essa experiência: “Parecia
que estava fornecendo música para a festa de alguém. Roger não suportava isso.
Eu tinha uma visão diferente, mas às vezes era difícil aguentar. Isso
transformou o show porque não conseguíamos tocar as músicas mais calmas como
antes.”.
Em
certo ponto da turnê, Waters começou a gritar números aleatoriamente durante a
execução de Pigs (Three Different Ones). Somente
após algum tempo perceberam que os números representavam quantos shows eles
haviam feito até então, indicando uma contagem regressiva para o fim daquela tour infernal. Para piorar, sua saúde
estava muito debilitada, até que minutos antes do show no Philadelphia Spectrum, um
médico lhe receitou um relaxante muscular para que suas dores abdominais
diminuíssem. O efeito do remédio lhe causou dormência nas mãos, de modo que não
as sentiu durante a apresentação inteira. Tal evento inspirou a letra de Confortably Numb, presente no disco
seguinte. Mais tarde, Roger foi diagnosticado com hepatite.
Fora
dos palcos o clima estava cada vez mais tenso. Roger Waters se isolava do grupo
chegando sozinho aos locais dos shows e não participava de jantares ou festas
depois deles. Essa atitude incomodava demais Richard Wright, que chegou a sair
do palco, entrar num avião e voltar para a Inglaterra. “Eu estava ameaçando
sair, e lembro-me de ter dito: ‘Eu não quero mais isso’”, relembra o
tecladista.
Toda
a raiva sobre o que estava acontecendo veio à tona em Nova Iorque, 3 de julho,
no Madison Square Garden. Muitos levaram os fogos de artifício que seriam utilizados no
dia seguinte (Dia da Independência dos EUA) para o show. Em meio a pedidos por Money ou simples gritos de ”rock and roll”, a plateia começou a
soltar fogos para todos os lados durante a acústica e bela canção de amor Pigs On The Wing. O público se recusava
a ficar quieto e prestar atenção na música, então Roger gritou em alto e bom
som: “You stupid motherfuckers! Shut the
fuck up!”. Ele revelou anos mais tarde: “Eu me sentia mais e mais alienado
em relação às pessoas que deveríamos entreter. Muitas pessoas iam aos shows
porque não tinham mais o que fazer.”. Nick Mason recorda: “Os dias em que nossa
plateia ficava num profundo silêncio prestando atenção em tudo que fazíamos definitivamente tinham acabado.”.
Três
dias depois eles estavam em Montreal para realizar a última apresentação da
exaustiva turnê. Foi nesse dia que tudo desabou de vez. Depois de muitos gritos
e mais fogos de artifício, Waters se irritou com um fã em específico que,
segundo o baixista, não parava de berrar sua devoção pela banda. Cego pela ira,
o baixista caminhou até a beira do palco e cuspiu diretamente no rosto do fã.
Curiosamente, “Who was trained not to
spit in the fan”, Roger indagava na parte final de Dogs. No bis, todos voltaram para improvisar um blues lento, menos Gilmour, que ficou parado atrás da mesa de mixagem: “Pensei
que era uma grande vergonha terminar uma turnê de seis meses daquela forma.”.
Após
o show, Waters e o empresário Steve O’Rourke estavam brigando de brincadeira
quando o baixista cortou seu pé sem querer. Uma limousine estava à disposição e
Roger, sua namorada, o produtor Bob Ezrin e um amigo psiquiatra foram
rapidamente para o hospital. Ezrin relembra os pensamentos
que Waters compartilhou com todos dentro daquele carro: “Ele começou a falar
sobre o sentimento de alienação da turnê e como sua mente imaginava construir
um muro entre ele e a plateia. Meu amigo psiquiatra ficou fascinado.”. Em The Wall, essa parede foi literalmente
construída.