Al
Kooper, experiente e respeitável produtor, compositor e parceiro de Bob Dylan,
Stephen Stills, entre outros, definitivamente mudou para sempre a história dos
rapazes de Jacksonville, Flórida. Em
1972, o Lynyrd Skynyrd tocava em qualquer espelunca que oferecesse um
oportunidade para eles se apresentarem. Graças ao empresário Alan Walden, irmão
de Phil Walden e co-proprietário da Capricorn Records, eles conseguiram uma
temporada de seis datas no Funochio`s, o bar mais barra pesada de Atlanta, onde o
vocalista Ronnie Van Zant relatou que ocorriam no mínimo duas brigas por noite
e pelo menos um tiroteio por semana. Mas eles não tinham escolha: “Não
estávamos atrás de confusão, mas você tinha que entrar numa briga se quisesse
sair de lá vivo. Depois que tocávamos no Funochio’s, voltávamos para Florida
para ensaiarmos um novo show para a próxima vez em que nos chamássemos por lá.
Alguns membros da banda tinham empregos de meio período, como entregador de
flores, por exemplo, só para continuarmos os ensaios. Todos saímos da escola
para nos tornarmos profissionais, então sabíamos que não importava o quão difícil
fosse, deveríamos insistir para que desse certo, caso contrário não seríamos
nada mais que colhedores de algodão”, explica Ronnie.
Al Kooper |
Na
época, Al já tinha convencido os executivos da MCA a bancarem a Sounds Of The
South, sua gravadora e mais nova empreitada que tinha como objetivo competir
com a Capricorn Records e lançar todas aquelas bandas maravilhosas que ele assistia
ao vivo pelo sul dos EUA. Na visão de Kooper, o Lynyrd era o seu Allman
Brothers, uma joia na coroa do Southern Rock. A banda, que não tinha nada a
perder, aceitou o acordo.
Enquanto
faziam os ajustes do contrato, o baixista Leon Wilkeson, que tinha 20 anos e
fazia parte do grupo há seis meses, resolveu pular fora do barco. “Eu saí
porque tinha uma ideia assombrosa sobre ter fama, ser reconhecido. Eu senti que
não estava preparado para o sucesso.”, explicou Leon.
Para
ocupar o posto de baixista, Ronnie procurou Ed King, guitarrista do Strawbery
Alarm Clock, com quem havia feito uma turnê conjunta em 1970 pela Flórida. Ed havia
ficado impressionado com o Lynyrd e disse ao vocalista que caso sobrasse uma
vaga, que o chamasse imediantamente para preenchê-la. Depois de muita procura,
Ed foi encontrado tocando numa banda de bar em Greenville, Carolina do Norte.
Com a formação completa, rumaram para Green Cove Springs, cidade próxima a
Jacksonville onde tinham uma pequena cabine de ensaio apelidada “Hell House” devido
ao calor infernal que fazia lá dentro. Ali eles ficaram ensaiando doze horas por dia
durante três meses.
Em
março de 1973, a banda finalmente assinou o contrato com a Sounds Of The South
Records e receberam um adiantamento de nove mil dólares em notas de cem, que
utilizaram para comprar novos equipamentos. As gravações começaram no dia 27
daquele mês e na semana seguinte seis músicas já estavam prontas, sendo que as
bases foram registradas em no máximo dois
takes. “Todos sabiam suas partes, batida por batida, nota por nota, de
olhos fechados, de trás para frente. Era como respirar, de tantos ensaios que
fizemos.”, lembra o baterista Bob Burns.
A
relação entre produtor e banda havia se tornado muito íntima desde aquela jam que fizeram no Funochio’s. Kooper,
empolgado com as gravações, passou a opinar, compor e modificar os arranjos,
como fez em I Ain’t The One e Gimme Tree Steps, além de tocar
mellotron em Tuesday’s Gone e mandolin em Mississipi Kid. O Roosevelt Gook, que
aparece como um dos baixistas nos créditos, na verdade é o próprio produtor,
que assinou o disco sob um pseudônimo.
As
letras traziam os músicos para perto dos fãs, retratando temas presentes no
dia-a-dia de um cidadão comum. Musicalmente,
sua maior influência, além da óbvia música sulista, era a segunda
geração do rock inglês, declaradamente o Free como principal inspiração. Essa
combinação entre country e rock os aproximava muito mais do Southern Rock do
que o Allman Brothers, por exemplo, de raízes blueseiras com pitadas de jazz.
Vant Zant disse que em 1972 Gregg Allman chegou para ele perguntou “Você é o
cara que está tentando me imitar?”. Talvez pelo fato de que Zant casou-se com
Judy, uma ex-namorada de Gregg, fato é que a competição entre eles e suas
respectivas bandas sempre existiu. Porém, qualquer um que ouvia as duas notava a
diferença. O ABB veio antes, mas foi o Lynyrd que carregou a bandeira sulista
mundo afora.
O
ápice do disco era, sem dúvida, Free
Bird. Relatando o fim de um relacionamento ao longo de seus dez minutos,
possui um dos solos de guitarra mais marcantes da história, registrando o duelo
entre Gary Rossington e Allen Collins de maneira inspirada e brilhante. A MCA
insistiu, em vão, que eles fizessem uma versão de três minutos para ser lançada
como single. Gary relembra: “Dissemos ‘Não nos importamos, essa música detona
ao vivo, vocês podem escolher outras para a rádio’”. Recentemente, a canção foi
resgatada no terceiro volume da série de jogos Rock Band como sendo a mais
difícil de ser executada na guitarra, apresentando o clássico para as novas
gerações.
Outra
faixa que se destacava era a tocante Simple
Man. Num dia qualquer, Ronnie estava em seu apartamento acompanhado de Gary
Rossington, relembrando histórias de sua avó que havia acabado de falecer. O
guitarrista começou a dedilhar seu violão e ambos, pensando em suas mães e
avós, foram compondo uma letra baseada na ideia de uma mãe que dá conselhos ao
filho, ensinando-lhe valores como a fé, humildade, amor e desapego material.
Impossível não se emocionar com sua letra e melodia inspiradas pela sabedoria
materna.
Leon
Wilkeson, vendo que não poderia deixar a oportunidade passar em frente aos seus
olhos, decidiu voltar para a banda ainda em tempo de aparecer na foto da capa, e
então o Lynyrd formou o trio de guitarras mais clássico de toda a história,
cada um soando distintamente, com Ed King e sua Stratocaster preenchendo o espaço
deixado pela Les Paul de Rossington e pela Gibson Firebird de Allen Collins. Sustentados
pela cozinha precisa de Wilkeson e Robert Burns, o tecladista Billy Powel
completava a formação.
Antes
do disco ser lançado, Kooper convidou executivos de grandes gravadoras, dj’s,
apresentadores de rádio, críticos, além de Marc Bolan do T. Rex e todo o pessoal
da MCA para a grande festa de abertura da Sounds Of The South no Richard’s, em
Atlanta, num domingo, 29 de Julho de 1973. Nessa ocasião, o Lynyrd, prata da
casa, abriu o show com uma nova música chamada Working for MCA, em homenagem à gravadora que os contratou e que
foi incluída no próximo álbum, Second
Helping.
Pronounced’Leh-Nérd’Skin-Nérd, chegou às
lojas em 13 de Agosto de 1973. O título ensinava a todos como pronunciar
corretamente o nome da banda, já que o mesmo ficaria famoso mundialmente pouco
tempo depois. Free Bird, rejeitada
como single pela gravadora, tornou-se a canção mais tocada nas FMs do país em
sua versão completa e o disco vendeu mais de 100.000 cópias logo de cara, com críticas positivas aparecendo em toda imprensa musical.
Antes
de todo o sucesso, a banda foi convidada pelo The Who para abrirem a turnê que
fariam pela América do Norte promovendo o disco Quadrophenia. Todos ficaram surpresos e alegres com o convite, já que teriam a oportunidade de tocar diante de 20.000 pessoas numa única noite, nas
maiores casas norte-americanas. A primeira data aconteceu no Cow Palace, em São
Francisco e o começo não foi dos mais animadores. A plateia começou a
arremessar moedas na desconhecida banda assim que eles subiram no palco. Porém,
a mesma audiência pediu bis no final do show. O empresário do The Who na época,
Peter Rudge, disse: “Nenhuma banda que já abriu para o Who tinha voltado ao
palco para um encore”. Pouco tempo
depois, Rudge tornou-se empresário do Lynyrd. Bill Curbishley, outro empresário
da banda inglesa, também se espantou com os americanos: “Eles queriam ser mais
loucos que Keith Moon. Queriam ser melhores e maiores que o The Who em tudo.
Eles já eram loucos naturalmente, mas esse encontro com Who acendeu a chama.
Isso também deu motivação e direção eles.”. Que estreia!